Prelúdio do Caos

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quarta-Feira, Carlos andava embaixo do viaduto comumente conhecido como “minhocão” algo pouco recomendado a se fazer às 3 da manhã, naquele horário o que se via eram mendigos dormindo ou conversando, travestis com seus poucos trajes procurando por clientes. Sem muito esforço notavam-se pessoas comprando ou vendendo entorpecentes, mas suas noites de insônia se tornavam suportáveis quando fazia isso, Não pensava ser melhor que qualquer um daqueles que via, nem pior, talvez porque sua essência fosse decadente, transgressora... Ou apenas ver tamanha degradação inconscientemente fazia com que percebesse que sua situação não fosse tão ruim quanto parecia.

Andou alguns minutos quando um barulho lhe chamou a atenção, ouvia uma discussão, se aproximou e protegido por uma pilastra olhou na esquina e viu um carro de polícia onde 2 policiais humilhavam e ameaçavam alguns travestis porque segundo eles o dinheiro que haviam dado era "dinheiro de pinga" e que se quisessem continuar trabalhando na área deles teriam que fazer melhor que aquilo, depois de mais algumas ameaças, enquanto exibiam suas armas e riam inescrupulosamente entraram no carro e saíram a toda velocidade.

Ouvir aquilo o revoltou, voltou andando pra casa e no caminho refletia sobre toda a injustiça que o cercava, a maldade, a indiferença das pessoas e o sentimento de superioridade que era velado pela alienação que era imposta a todos, não acreditava na justiça dos homens, não acreditava na justiça de um Deus, seja ele qual for, por mais benevolente que fosse nenhum Deus permitiria tamanha podridão sob seu domínio, decidiu que a partir daquele dia, ele seria a justiça, faria a justiça, faria o que a incompetência dos homens e de Deus não permitia que fosse levada aos homens. Sentia-se diariamente passando em frente a porta do paraíso, mas não tinha nenhuma vontade de entrar, pois tinha certeza que aquilo seria um mundo de mentiras, ilusões e na melhor das hipóteses, tédio.

Chegou em casa, acendeu um cigarro ficou na sacada fitando as luzes caóticas dos carros que passavam há uma certa distância dali, quando uma sensação estranha gelou-lhe a espinha e ao virar-se viu um gato andando ao seu lado. Após o susto inicial abaixou-se e ameaçou acariciar o animal que assustado arranhou-lhe a mão e se afastou assustado, Carlos olhou sua mão sangrando e após alguns segundos de inércia aproximou-se do animal e deu-lhe um tapa com as costas da outra mão sem medir sua força.

- Sim... Minha justiça inicia-se agora - disse o homem enfurecido.

Após ser atingido o animal fugiu pulando da sacada para um telhado vizinho e sumiu na noite, já provara da verdadeira justiça. Alguns minutos depois já mais calmo, Carlos fechou todo seu quarto pois sabia que não demoraria até que o sol aparecesse para tirar-lhe o sossego, colocou uma música de fundo, alguns dos vários “folks” que possuía, pegou seu copo e após serví-lo com uma boa dose de absinto, calmamente colocou a colher sobre o copo com um torrão de açúcar, pingou algumas gotas de láudano, acendeu um cigarro, levantou-se e apagou a luz... Voltou pra cama, acendeu o isqueiro por baixo da colher por alguns segundos, virou a colher derramando o torrão já derretido com o láudano no absinto respirou fundo e bebeu.

- Um brinde a justiça... A minha justiça que se inicia hoje.

Apagou o cigarro e desligou-se do mundo num misto de sono e alucinações...

- By Oleno Petrere -
See Yaa

1 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom "Um brinde a justiça".

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