segunda-feira, 29 de junho de 2009
Mais um dia de uma vida mediana, hoje me dei um dia de folga, senti aquela velha pontada no peito, meu nariz escorreu, minhas entranhas começaram a fazer um carnaval dentro de mim, o corpo ficou muito mais pesado que o normal e uma urgência me corroia a mente. Desde que parei com as drogas sinto essas coisas, antes era todos os dias, depois algumas vezes por semana, aí mês sim, mês não e depois a abstinência foi ficando cada vez menos frequente, mas eu já sabia, nesses dias é melhor não colocar os pés para fora de casa, não correr risco, nem passar por tentações, que não faltam no bairro onde moro, diga-se de passagem.
Acordei as 6:00 da manhã, liguei para o chefe, contei que estava com muito mal estar e inventei que ia no posto de saúde saber o que tinha, afinal, comprar uma receita médica é facílimo nos dias de hoje e principalmente aqui pelos lados do minhocão e da “boca do lixo”. Porém não menti de todo, eu realmente estava com um mal-estar terrível que fazia parecer que o corpo estava em brasa e mil agulhas me alfinetavam a cada passo, resolvi então deitar-me, já tinha resolvido o caso com meu chefe, e ninguém me procuraria durante o dia, ou sentiria minha falta no trabalho. Deitei-me e dormi até as 10:00AM, com o sol me queimando a face, havia esquecido de fechar as pesadas cortinas que tinha em casa, uma das únicas heranças que recebi com a morte de meus pais, já que meus dois irmãos me espoliaram antes e eu poder me dar conta, e com uma procuração dando direitos e privilégios totais aos dois, colocaram tudo que minha mãe e pai deixando no nome dos dois antes mesmo dos falecimentos, enquanto fingiam “cuidar dos negócios”. Dei um tapa sonoro na cabeça, agora não era hora de remoer magoas passadas, já basta a abstinência me tentando o juízo, o que eu não daria por uma “carreira”, por um “tirinho”, apenas um, mas eu sei, se der um, é o fim, vai levar anos antes que fique limpo novamente, então tranco a porta de casa, fecho as janelas e volto ao banheiro do quarto, toma sminha dose de rivotril, diozine e imopramina, deveria tomar a noite, mas como ia dormir somente agora e tive uma noite praticamente em claro, n vi mal em tomar agora de manhã.
Sento no computador e fica fuçando aleatóriamente em sites e programas, está apenas esperando os remédios psicotrópicos fazerem efeito. Sentado, noto que estava sem cigarros, mas já havia decidido que não ia sair, então fui em todos os cinzeiros da casa, peguei as bitucas todas e “bolei” um com o restinho de cada outro já fumado.sentei para fumar, e comecei a chapar, eram os remédios fazendo efeito, não tive nem tempo de levantar e ir a cama, deitei-me onde estava mesmo, entre o chão e sofá.
O radio relógio, o maldito rádio relógio toca, sinal que são 18:00hrs, lembro-me que quando criança, minha mãe nos obrigava, toda a noite, quando batessem as 18 horas, a nos ajoelharmos e a rezarmos uma Ave Maria, ela dizia que era uma hora sagrada, e os sinos da igreja que tínhamos perto de casa, pareciam confirmar o que ela falava, tocando as seis badaladas. Ainda nem abri os olhos e já estou divagando novamente, o mal estar no corpo parece que passou, agora ficou apenas a dor de dormir entre o sofá e o chão, uma pequena torcicolo aponta, avisando que está lá, abro os olhos e olho ao redor, um pardieiro, sim, eu gasto meu suor todos os dias para morar num pardieiro, em um prédio que mais parece um cortiço, mas que é o único local que consegui perto do trabalho, para não gastar com condução, no serviço eles acham que eu moro na Zona Leste, peguei uma conta como comprovante com um amigo, assim me sobra pelo menos o dinheiro da condução além do salário de fome.
Decidi que era hora da sair, eu precisava fumar com urgência, e tinha que achar um daqueles que eram falsificados mas de filtro vermelho, parece até que pobre só fuma filtro branco, cacei pelas barraquinhas embaixo do minhocão até achar um maço de T.E, filtro vermelho, “estora-pulmão”, bem o que eu gosto de fumar, já não basta todas as doenças que o cigarro nos oferece, o governo ainda aumenta o preço desse prazer suicida em quase 100%, além de pobre e fudido ainda n posso nem me matar aos poucos. Abri o maço rapidamente, coloquei um dos bastonetes na boca, acendi com um isqueiro bic que eu devo ter “roubado” sem querer de alguma mesa de bar com o povo, e dei o primeiro trago, uma sensação de bem estar passou pelo meu corpo, só quem fuma sabe como é a sensação do primeiro cigarro do dia, do cigarro depois das refeições e principalmente do cigarro depois do sexo. Saí da banca e deixei que o bem estar tomasse conta do meu corpo, mais a frente há uma loja de conveniência onde a tempos atrás eu me encontrava com um grupo de amigos para de lá irmos a algum lugar, sempre que a vejo fico saudoso e decidi ir tomar uma cerveja lá “pelos bons tempos”, tempos nos quais eu acreditava em amizade, confiança, e não era tão cínico em relação a vida.
Entrei na loja de conveniência, peguei uma Long Neck de Heineken, era a primeira cerveja da noite, sempre começávamos com ela, no fim da noite valia qualquer vodka vagabunda, mas no começo tinha que ser Cult. Lembro dos nossos finais de noite, alguns desdentados, outros de supercilho aberto, alguns de braço quebrado, e eu sempre inteiro, não que eu fugisse das brigas, mas eu ficava em um meio termo de distância, não batia em ninguém, mas parecia que eu tava na treta para quem olhasse, e também não apanhava, afinal, os sábios aprender só de olhar.
Mas hoje não há nada a aprender, apenas remoer velhas memórias e saborea-las.
Meu nome é Carlos, e eu sou um viciado.
Autor: Barata

2 comentários:
Gostei.
Heuhuahuha ótimo!
www.isafblog.simbologiamaldita.com
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