A Escolha do Dia Ordinário

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Seria um lindo céu azul e um sol esplendoroso formando um belo dia, se Carlos não estivesse indo trabalhar depois de uma péssima noite. O Gosto da cerveja de manhã completava o gosto de pasta vencida e implorava por um cigarro.
O dia seria lindo se estivesse vendo-o na televisão, pois sentir aquele calor logo de manhã, e ser sufocado pelo ar seco da metrópole não era nada poético.
Trajando jeans, coturno e uma camisa surrada, Carlos carregava sua mochila como quem arrasta grilhões, em direção ao seu trabalho.
Sentou na sua mesa em frente ao computador, e já ouvia os sons costumeiros de seu escritório: O chefe reclamando, a secretária fazendo fofoca, e o cunhado do chefe que fingia trabalhar e ficava o dia todo no orkut, e quando saía do computador, dava em cima de qualquer funcionária.
Não ganhava muito, mas dava para se aguentar.
Aquele dia parecia como qualquer outro, e como sempre, adiantava seu trabalho para poder divagar sobre seus pensamentos e devaneios diários até o fim do expediente. Pensava na justiça que desejava conquistar e por em prática, e no sonho insano que teve na última noite, que mesmo lhe aterrorizando e sendo nítido até aquele momento, não conseguia desviar sua mente.

Seria um dia como qualquer outro, sacal, vazio, esperançoso; onde sua revolução, sua coragem e seus planos mais uma vez ficassem apenas em sua mente, fervilhando como uma grande fornalha.

Foi quando num súbito momento, ouviu-se um som ensurdecedor, como o de um trovão na terra! E na verdade numa terra bem próxima, como do outro lado da rua. Todas as vidraças de seu escritório quebraram, todos os funcionários se jogaram ao chão, e dezenas de carros dispararam o alarme, fazendo uma trilha sonora digna de fatais passagens. Carlos, apenas se assustou, mas pensava em seu sonho nesse momento, e a explosão ocorrera na mesma hora em que pensava na 9mm do seu "eu" bem vestido.

Havia muita fumaça e pessoas saindo de uma galeria em frente ao seu trabalho. carlos pensava 'no que queria ser', quando seu chefe correu para fora e atrás dele foram outros funcionários, a secretária estava aos prantos desesperada abaixada no chão e seu cunhado aproveitou que estava vazio e roubou uma pasta cheia de documentos do cofre, e Carlos nem reparou que ele tinha a senha do cofre, pois foi correndo para a rua, e chegando num ponto entre seu trabalho e o prédio, vislumbrou: muita fumaça e muitos gritos, correria e tumulto, era dificil imaginar aquele caos digno de atentados terroristas visto nos jornais.

-O que diabos está acontecendo?
Pensava Carlos, que sentia na pele a sequência de acontecimentos estranhos desde a noite anterior.

Viu uma criança presa num escombro e num desespero, gritou por algum bombeiro, mas reparou que não havia nenhuma força governamental no local. Não acreditando nas pessoas que não enxergavam o pequenino chorando de muita dor, todo sujo de fumaça com uma placa de concreto em cima de suas pernas, viu ainda um rapaz roubando o relógio e a bolsa de uma mulher morta.

-Será que nem mesmo num momento crítico, as pessoas desse mundo tentam se ajudar?
Pensou revoltado com todo aquele desastre junto a malícia desumana em sua volta. Não sabia se ajudava, se tentaria punir, se deixaria nas mãos das autoridades quando chegassem ou se consolasse a vagabunda da secretária chorando desolada. Um misto de emoções lhe rondavam e estava a ponto de explodir...tinha que fazer algo coisa para não surtar.

Carlos estava parado no meio de uma encruzilhada de escolhas e, embora não estivesse pensando nisso, as opções que o seu Eu mostrara em seu sonhos, começariam ali, de acordo com o primeiro passo que tomasse naquele dia ordinário e abafado, com fumaça negra se espalhando pelo céu limpo e cinza de São Paulo.

Leonardo Dognani

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